Muitos anos atrás, quando minha mãe ainda vivia
entre nós, estávamos conversando a respeito de problemas de saúde, de forma
geral, e ela comentou: “Não sei por que os jovens de hoje têm tantas
complicações, já que no meu tempo a vida era muito mais difícil, mas a gente
quase nunca ficava doente”.
Foi aí que eu a lembrei de um aspecto importante que
contribuía para que isso acontecesse: a melhor qualidade de vida de que
desfrutavam naquela época. Minha mãe foi criada no Interior, comendo o que
plantavam, as galinhas e porcos que criavam, bem como animais cujas carnes eram
comercializadas assim que abatidos. Como não dispunham de aparelhos
refrigeradores, as carnes eram salgadas ou, depois de fritas, colocadas no meio
da banha de porco, a fim de que não estragassem.
Acho que naquele tempo não se ouvia falar de
conservantes, acidulantes, aromatizantes, corantes e quetais. A comida era
preparada em fogões à lenha, e minha mãe sempre lembrava que as panelas
permaneciam quentes esperando meu avô e minhas tias voltarem da roça para
fazerem as refeições juntos, no final do dia.
Mas havia outro “detalhe” que ajudava muito a manter
a boa saúde da família: meu avô materno tratava todos com ervas medicinais.
Como minha mãe contava, ele possuía um livro de homeopatia e, após uma incursão
pela mata, voltava com folhas, raízes e cascas de árvores que utilizava para
preparar chás, infusões, emplastros ou o que mais alguém pudesse estar
precisando.
Para as crianças, após cozer as ervas em um grande
caldeirão e coar o líquido, adicionava açúcar mascavo – o que transformava a
beberagem em um doce –, a fim de que não se recusassem a ingerir um vermífugo.
E, como minha avó enfrentava problemas com o reumatismo, lá ia o avô preparar
sua garrafada de pinga com sucupira, que, após ficar “enterrada” por nove dias,
estava pronta para ser consumida.
Acho que, hoje em dia, com o distanciamento do homem
moderno das coisas naturais, talvez não seja mais tão comum os pais entrarem
nas matas para buscar plantas, a fim de cuidarem da família. Mas as mães ainda
podem usar as ervas para auxiliarem na boa saúde dos seus.
Com o que se convencionou chamar “temperos”, as
ervas foram relegadas a um segundo plano na alimentação; mas, devido às suas
qualidades terapêuticas, muitas delas deveriam ocupar lugar de destaque nas
nossas receitas. É o que acontece, por exemplo, com o alecrim, alho, canela,
cravo, erva-cidreira, erva-doce, hortelã, manjericão, manjerona, sálvia,
tomilho, entre tantas outras.
Mas não somente na alimentação as plantas estão
ajudando a manter a boa saúde da população. Bastante popular atualmente, também
a Aromaterapia se utiliza dos óleos essenciais para proporcionar benefícios em
processos de cura.
Então, seja na comida, em cremes para massagem ou,
ainda, em óleos para aromatização, eis algumas indicações para utilização das
ervas nossas de todos os dias, lembrando-se que há cuidados a serem observados
em se tratando de grávidas, cardiopatas, portadores de deficiência mental,
pessoas com problemas psiquiátricos graves e dependentes químicos:
Alecrim:
estimulante da circulação, revigorante, diurético, diminui o esquecimento e o
cansaço, ajuda a trabalhar a concentração – por isso, melhor evitá-lo à noite,
para não interferir com o descanso noturno.
Alho:
auxilia no controle da pressão arterial leve e na redução do colesterol, além
de apresentar ação expectorante, analgésica e antibacteriana.
Canela:
apresenta propriedades diuréticas, analgésicas e purificantes; ajuda a
expressar a criatividade, expande o amor e a jovialidade.
Cravo:
tem ação antisséptica, cicatrizante, estomática, carminativa, afrodisíaca e
parasiticida; promove o relaxamento, fortalece a memória e auxilia no resgate
do bom humor e da simpatia.
Erva-cidreira:
indicada para nervosismo, insônia, taquicardia e problemas digestivos, por suas
propriedades antiespasmódicas, digestivas e calmantes; melhora a concentração.
Erva-doce:
muito utilizada contra prisão de ventre, por suas propriedades laxantes e
diuréticas, é ainda uma erva antisséptica, antiespasmódica, carminativa e
tônica, promovendo força e longevidade.
Hortelã:
expectorante e refrescante, estimula o cérebro e clareia o pensamento,
aliviando ainda dores de cabeça, febre e náusea. Tônico digestivo, auxilia
ainda contra cólicas, tosse sufocante e azia. Alivia complicações nas vias
respiratórias, incluindo asma, laringite, congestão nasal, resfriados, gripe e
bronquite.
Manjericão:
com propriedades antidepressivas, antissépticas, antiespasmódicas, digestivas e
tônicas, atua no sistema nervoso central, melhorando afecções das vias
urinárias e respiratórias, doenças estomacais, fadiga mental, enxaqueca,
insônia e estafa.
Manjerona:
analgésica, antisséptica, antiespasmódica, calmante e digestiva, auxilia na desobstrução
das vias respiratórias, em casos de nevralgia, câimbra, entorses, distensão,
enxaqueca, pressão alta, insônia.
Orégano:
dentre outros benefícios, diminui os sintomas da tensão pré-menstrual e auxilia
no tratamento de insônia, estresse, cansaço nervoso, febre e dores reumáticas.
Ajuda a diminuir a retenção de líquidos no corpo, evitando ainda o
envelhecimento precoce de todos os órgãos. Seu uso constante combate tosses,
doenças do pulmão, dores musculares e indigestão.
Sálvia:
com propriedades antidepressivas, antissépticas, sedativas, tônico-reguladoras
e equilibrantes, estimula o crescimento, regula os hormônios, combate a tensão
menstrual, distensão muscular e enxaqueca, além de asma e infecção de garganta.
Tomilho:
erva antisséptica, balsâmica, estimulante e expectorante, é indicada para
equilíbrio do sistema nervoso e da circulação sanguínea e atua contra
infecções, problemas respiratórios, má digestão, deficiência nervosa, anemia e
reumatismo, bem como favorece a menstruação tranquila.
Com a utilização frequente desses “condimentos”, não
somente é possível prevenir doenças que comumente aparecem em determinadas
épocas do ano, como também auxiliar o organismo a readquirir seu poder de
autocura – “bastante desequilibrado” em função das diversas substâncias nocivas
que não apenas ingerimos, mas com as quais somos “bombardeados” em nosso dia a
dia, especialmente nas grandes cidades (altamente poluídas).