Como terapeuta holística, estou constantemente
fazendo cursos para aprimorar meus conhecimentos e poder oferecer cada vez mais
recursos, a fim de criar condições de as pessoas poderem resolver os problemas
com que se deparam na vida – e para a solução dos quais procuram meu auxílio.
Sempre parti do princípio de que devo ensinar como
se pesca, em vez de oferecer o peixe pronto para ser consumido. Mas,
ultimamente, parando para fazer uma avaliação dos atendimentos que venho
realizando há algum tempo, cheguei à conclusão de que não estou desenvolvendo
meu trabalho a contento.
Por que avalio dessa forma meu trabalho? Muito
simples: para mudar radicalmente uma situação que nos incomoda, precisamos
primeiro alterar nosso modo de ver o mundo – e acho que não tenho obtido muito
sucesso nesse quesito. É difícil fazer as pessoas abandonarem sua “zona de
conforto” e se aventurarem a descobrir suas competências “escondidas” em seu
inconsciente...
Acham que estou complicando seu entendimento? Então,
acompanhem meu raciocínio... Acredito que foi Erich Fromm, em seu livro A arte de amar, que disse que as
crianças nascem príncipes/princesas, mas os pais as transformam em sapos...
Sim, como naquele conto de fadas em que o príncipe, transformado em sapo pela
bruxa má, só pode voltar à forma original se receber um beijo de amor de uma
princesa. Por conta da educação distorcida (muitas vezes, superprotetora), do
tratamento recebido (“podando” qualidades naturais ou submetendo a atitudes
abusivas), de informações imprecisas sobre o próprio papel a ser desempenhado
no mundo – dentre outros fatores –, os jovens crescem trazendo consigo uma
“criança interior” desajustada em relação ao seu convívio social.
Adultos, esses jovens carregam o estigma da própria
imagem estilhaçada, a dificuldade de se reconhecerem pessoas “unas e
qualificadas” para enfrentarem o mundo que as rodeia. Então, a tendência
“antinatural”, mas aceita como “normal”, é cada um habituar-se a lidar com
limitações impostas por visões confusas que trazem de si e do mundo que
percebem a sua volta.
Talvez seja mais fácil se eu exemplificar: sabe
aquele garotinho que tem um dom natural para a música, mas vive ouvindo dos
pais que não terá como sustentar sua família se passar o tempo todo tocando um
instrumento, porque isso não lhe dará dinheiro para o próprio sustento? Ou a
menina que gosta de consertos mecânicos, porém é induzida a seguir uma
profissão “mais feminina”? Ou, ainda, aquela que tem facilidade nata para lidar
com os alimentos – uma coisa considerada de somenos importância pelos pais, que
desfrutam de certa posição social?
Há também aqueles progenitores que se habituaram a
tratar os filhos como o fizeram seus próprios pais, com violência e sem nenhuma
demonstração de carinho. O que esperar que passem à sua descendência, a não ser
aquilo que, para eles, se apresenta como algo “natural”? O que fazer para
modificar esses “chavões” morais, éticos e emocionais que nos mostram uma
realidade tão distorcida e distante de qualquer benesse que acalentaria nossa
criança interior em direção a um mundo de amor e compreensão, que forma seres
humanos carinhosos, felizes e capazes de construir um futuro de sucesso,
baseado mais em sua realização pessoal do que financeira?
Num mundo tão materialista e consumista como o
nosso, realmente não há como prescindir de dinheiro para poder viver. Contudo,
transformar o “ganhar mais” em único objetivo na vida só pode alimentar um
“monstro de sete cabeças” que jamais se dará por satisfeito e saciado. E, assim,
temos um dos grandes vilões das ideias errôneas que alimentamos sobre nós
mesmos e que chamamos de “fracasso”.
Em nossa sociedade atual, não morar “bem”, não ter o
carro do ano, não frequentar os points
da moda nos finais de semana, não realizar uma viagem anual para o Exterior, ou
mesmo sair com a família em viagem de férias, são sinônimos de “fracasso”. Mas,
pergunto: fracasso de quem? Fracasso do quê?
Alguém me disse, certa vez, que entendia que homem
rico não é aquele que possui muito dinheiro, mas o que utiliza da melhor forma
o dinheiro de que dispõe e se sente feliz com isso. É o mesmo que enxergar o
copo de vinho meio cheio – quando a grande maioria prefere vê-lo meio vazio! É
a questão do “ver com otimismo”...
Então, o que tento mostrar às pessoas é que podem
ser felizes em qualquer situação que estejam vivendo no momento; o que precisam
fazer é perceber o que podem aprender com as diversidades e, ao mesmo tempo,
utilizar suas habilidades a fim de encontrar soluções plausíveis para os
problemas que têm diante de si.
Infelizmente, a grande maioria das pessoas escolhe
“não arriscar” apostando em suas próprias potencialidades, e ficam frustradas e
apreensivas esperando que algum milagre as salve da tormenta que enfrentam em
suas vidas. Vítimas de um destino incerto, clamam por ajuda como se outros
pudessem indicar-lhes a saída em situações que elas mesmas criaram – sendo
imprevidentes, não atuando de modo pró-ativo, aguardando uma solução “mágica”
que não acontecerá. Sinto muito quando antevejo problemas que poderiam ter sido
evitados, mas que é necessário, primeiro, ocorrerem para só então os envolvidos
começarem a se movimentar a fim de encontrarem uma saída do lamaçal em que não precisariam
ter entrado...
E, desse modo, voltamos à questão inicial: como
fazer alguém acreditar que todos somos príncipes e princesas, com todas as
potencialidades inerentes à pessoa que ocupa a posição e ao cargo que
desempenha, quando muitos de nós fomos convencidos de que somos sapos – sem
dons, sem dotes, sem qualificação?
Ainda estou procurando uma abordagem que possa
despertar, de forma mais direta e efetiva, o lado príncipe/princesa dos meus
assistidos...